sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Não param de me espantar....

Tenho um amigo que, durante um dos meus almoços de preparação para esta emigração, me disse que “os brasileiros são extremamente calorosos, vêm para ti de braços abertos para te dar um abraço, mas os braços acabam por nunca fechar à tua volta...”

Cusiosamente foi o que eu achei dos ingleses quando fui para Inglaterra e foi o que a mãe dos meus filhos achou de Portugal quando para lá nos mudamos. Para mim é mais uma prova que somos todos iguais mas recusamos a reconhecer-nos nos outros que pre-conceituamos serem diferentes...

Vou contar-vos umas histórias que me aconteceram nos ultimos dias aqui em Três Lagoas:

1 – É obvio que a casa que alugámos não tem Internet: Tenho ainda que a ir contratar. Mas tenho necessidade de ver os meus emails, de fazer algumas pesquisas etc etc etc e confesso que tendo idade, não tenho paciência para ir para uma LanHouse (lê-se “Lã Rause”) para o meio de teenagers em picos hormonais, para ver o meu email, entre sexo virtual e jogos de ação. Fui a um hotel, expliquei a situação, e perguntei se poderia usar a Internet que providenciam para os hospedes. “Claro que sim, sempre que desejar”. Estive lá duas horas a trabalhar e pedi um capuccino só para dar algo em troca. Não que fosse necessário....

2- O pessoal aqui não é muito de “take-away”. Ou bem que se vai jantar fora, normalmente churrasco, ou se janta em casa. E almoço nem pensar. Ou se come um pastel de carne ou misto (que por sinal são absolutamente deliciosos, mais um refri (gerante) ou há pouco mais escolhas.
Existe uma opção muito mais interessante que se chama “Marmitex” (derivado de “marmita” muito provavelmente) e que são refeições baratas destinadas a um público operário, fundamentalmente. Pois hoje, arragaçei as mangas, cuspi nas mãos, arrotei e almoçei marmitex . Fui ao restaurante e pedi. Ela abriu a caixa térmica e tirou de lá duas caixinhas de estanho, já preenchidas e quentes. Comprei duas latinhas de cerveja e já ia a sair quando me lembrei que comer com as mão é um habito chinês que os portugueses só adotaram para a sardinha, o frango e o marisco, e como eu achei que o estanho com comida operária não tivesse um dos três, voltei atrás, expliquei a situação, e pedi se me emprestavam dois talheres. “Claro que sim, o que desejar”. Os talheres eram todos de metal, finos, e ainda me ofereceu guardanapos. Nâo que fosse obrigatório...

(Nota: Como diz o meu vizinho António “Pobrezinho mas muito digno”. Foi do que me lembrei quando abri o marmitex, mas uma coisa acreditem: naquele caso o menu poderia ter sido definido por um/a nutricionista: Uma posta de peixe frito, um pedaço de carne da costela assada, vegetais ao vapor, meia batata, arroz e feijão. E estava absolutamente delicioso. Quero acreditar que era da confeção da refeição, mas também é possivel que fosse como o meu avô Manel dizia: “A fome é a melhor mostarda”... Benzó Deus....)

3 – Ontem, para não dormir em cima de um colchão emprestado, cuja origem não sendo duvidosa não deixa de lado as questões higiénicas, fui ali a uma loja de decorações e comprei um lençol e umas fronhas para as almofadas que tinha comprado. Enquanto a Sky metia o nariz em outras compras desejaveis/necessárias, eu deambulei ali pela loja, olhando à esquerda e à direita como se fosse um turista em férias. Na zona dos sapatos de criança encontrei uma decoração temática do filme “Carros”, assim já meia abandonada, e pensei cá para comigo “Olha que isso dava um bom início para um tema de festa infantil...” E como nas histórias que o meu pai me contava (confesso que não me lembro bem da historia, mas que uma das frases mais marcantes era “e se bem o pensou melhor o fez”) eu pedi pra falar com o gerente, expliquei-lhe a situação e pedi para ele me ofereçer a decoração. Assim de chofre, sem mais nem menos, toma lá e vai apanhá-las... “Claro que sim, sem qualquer problema.” e ainda foi à caixa pedir um saco de plástico para meter a decoração que me tinha oferecido. Não que tivesse que o fazer...

Ainda pensei que eles tivessem ficado espantados com o facto de eu ter pedido. Talvez com o facto de ser português. Talvez tivessem ficados agarrados ao meu sotaque... Mas não. Tenho exemplos destes todos os dias. Talvez seja uma questão de entrega (minha a eles) e reciprocidade, talvez o povo do interior seja diferente, talvez seja mais facil criar empatia.

Confesso que não sei.

Mas que o abraço que me deram está apertado, isso vos garanto que está....

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