Lembro-me perfeitamente de estar deitado na minha cama, em casa dos meus pais, com uma montanha de Almanaques Disney, um pacote de bolachas e uma tijela com 5 ou 6 peras e ali passava a tarde toda.
Depois a leitura passou a ser mais séria. Passei pelos livros juvenis, o Corsário Negro, Sandokan, 20000 léguas submarinas, Ivanhoe e cheguei à literatura séria. Os meu géneros preferidos foram fudamentalmente Ficção Científica (Heinlein, Asimov, Philip K. Dick), Terror (Steven King, Steven King, Steven King) mas de uma forma geral, tudo o que vinha à rede era peixe.
Nâo quer dizer que lesse tudo de todos. Saramago, por exemplo, alguns adoro (História do Cerco de Lisboa, Memorial do Convento) outros nem entendi (A Caverna).
Quer esta introdução dizer que ao longo dos anos tudo o que eu li serviu de alguma forma para moldar, ou pelo menos para ajudar a definir, o que é o meu pensamento presente, a forma com eu interpreto a realidade, a minha identidade e o modo como me relaciono com o mundo.
Há poucos dias, começei a ler outro livro. Chama-se "Mais Platão, Menos Prozac" (link para o PDF na capa do livro).
Ainda só li 2 capítulos e parei para escrever esta posta.
"Parei porquê?" irão vocês perguntar...
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vá..... perguntem......
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Parei porque adorei o capitulo 2. O capítulo 2 faz uma resenha das principais linhas filosóficas, orientais e ocidentais, fala dos seus filósofos mais importantes, e das ideias fundamentais de cada uma dessas escolas. Ora para uma pessoa que, tal como eu, nunca teve nota positiva na disciplina de filosofia, este capítulo foi um achado. Um mini curso de filosofia, fora da sala de aula, em 3 horas, sem incluir o tempo gasto com sublinhados. FAN-TÁS-TI-CO!!!!
E li, e pensei, e meditei e fui ficando zangado. Fui ficando zangado porque me revi numa grande fatia dos pensamento ali expostos e datam desde 2500 AC.
Por exemplo:
As filosofias indianas — o hinduísmo e o budismo — enfatizam a natureza cíclica da existência, a transitoriedade das coisas, os efeitos tóxicos dos desejos e a importância do desapego. O apego, seja a si mesmo, aos outros ou às coisas, é a causa principal do sofrimento. Uma forma de reduzi-lo, portanto, é a falta de apego. A filosofia indiana em geral — seja hindu ou budista — sustenta que devemos fazer tudo com todo o coração, como um serviço, não somente para colher os frutos que resultam do nosso trabalho.
Sócrates deixou o chamado método socrático: fazer uma série de perguntas para se chegar a respostas definitivas. A famosa máxima de Sócrates, "A vida não examinada não vale a pena ser vivida", resume a sua convicção de que levar uma vida de qualidade é a coisa mais impor-tante e que conseguimos isso principalmente por meio da indagação.
Aristóteles desenvolveu a importância e o uso do pensamento crítico, preparando o terreno para séculos de indagação filosófica. Foi pioneiro de várias ciências físicas e sociais, mas pouco disso tudo é cientificamente útil hoje, já que é tudo teoria e nenhuma prática — ele não realizou nenhuma experiência e não estava particularmente preocupado com a evidência. Também inventou a lógica, que em sua forma elementar é muito útil para clientes com problemas que envolvem erros no pensamento crítico. A teoria da ética de Aristóteles é também extremamente importante. Ele definiu a bondade como a virtude pela qual todas as criaturas racionais se empenham, uma visão otimista, sem a menor dúvida.
Podemos agradecer a René Descartes por nos fornecer a famosa articulação da coexistência da mente e da matéria. O reconhecimento da dicotomia entre a mente e o corpo e da sua complexa inter-relação tornou possível o aconselhamento filosófico.
A teoria da ética de Kant também é importante no aconselhamento filosófico. Ele pertenceu à escola de pensamento da deontologia (baseada em normas), oposta à escola da ética teleológica, ou conseqüente, que sustenta que as a-ções são certas ou erradas dependendo do resultado bom ou ruim. Para os te-leologistas, Robin Hood é um herói porque, basicamente, seus fins (dar aos pobres) justificavam seus meios (roubar dos ricos).
A idéia da dialética de Hegel contribuiu para o avanço da causa da aventura para além do pensamento simplificado. Em conflito, ele acreditava que se devia apresentar uma tese e uma antítese, depois harmonizá-las na síntese.
E por aí adiante.
Fiquei zangado porque aos 45 anos, quase 46, descubro que tudo o que sou é uma mistura mais ou menos serena do que foi pensado e feito nos últimos 5000 anos. Que não há um pingo de originalidade. Eu sou uma sopa da pedra.
Sou um pastiche.
P.S.-Fui ver à WIKIPEDIA o que dizia sobre "Pastiche":
"Bohemian Rhapsody" by Queen is unusual as it is a pastiche in both senses of the word, as there are many distinct styles imitated in the song, all 'hodge-podged' together to create one piece of music."
Se eu sou pastiche e a Bohemian Rhpsody é pastiche então estou reconciliado.


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