Quando se faz uma mudança de vida como eu fiz, é absolutamente indispensavel procurar enfrentar o começo como um novo nascimento. Lembro-me de há alguns anos ter perguntado ao meu filho Joey o que ele gostava de ser quando crescesse e a resposta que ele me deu foi a mais simples e verdadeira que alguem pode dar. A resposta foi "Quero ser tudo!".
E eu fiquei absolutamente surpreendido por uma criança, naquela altura ainda tão pequena já ter uma sensibilidade tão intuitiva e tão grande sobre o potencial associado à existência, ao crescimento: "Eu posso ser o que quiser, o que desejar, o que puder, o que me deixarem..."
É um pouco a forma como me sinto, neste momento. Eu posso ser tudo, porque acabei de nascer para uma nova vida, mas com as recordações e as lições aprendidas de outras vidas que vivi. Posso cometer os mesmos erros e os mesmos acertos, posso cometer erros diferentes e acertos que nunca tinha conseguido. A única coisa que não posso alegar é ignorância.
Quantas vezes cada um de nós não disse "Se eu soubesse na altura o que sei hoje.....". Essa é uma frase que só diz quem viveu apenas uma vida.
Recebi um poema, da minha amiga Glória Oliveira, que de certa maneira traduz essa percepção. O poema é intitulado "As Portas". Eu acrescentei "da Vida"
"Se você abre uma porta,você pode ou não entrar em uma nova sala.
Você pode não entrar e ficar observando a vida.
Mas se você vencer a dúvida, o temor, e entrar, dá um grande passo: nesta sala vive-se!
Mas, também, tem um preço...
São as inúmeras outras portas que você descobre.
Às vezes curte-se mil e uma.
O grande segredo é saber quando e qual porta deve ser aberta.
A vida não é rigorosa, ela propicia erros e acertos.
Os erros podem ser transformados em acertos quando com eles se aprende.
Não existe a segurança do acerto eterno.
A vida é generosa, a cada sala que se vive, descobrem-se tantas outras portas.
E a vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas.
Ela privilegia quem descobre seus segredos e generosamente oferece afortunadas portas.
Mas a vida também pode ser dura e severa.
Se você não ultrapassar a porta, terá sempre a mesma porta pela frente.
É a repetição perante a criação, é a monotonia monocromática perante a multiplicidade das cores, é a estagnação da vida...
Para a vida, as portas não são obstáculos, mas diferentes passagens!"
A autoria do poema é de Içami Tiba (Tapiraí, 15 de março de 1941), médico psiquiatra, psicodramatista, colunista e escritor.


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